MARLON DE AZAMBUJA : NUCLEAR

19 Novembro 2022 - 31 Janeiro 2023
Apresentação

MARLON DE AZAMBUJA

Nuclear


CURADORIA

José Augusto Ribeiro

 

ABERTURA

Sábado, 19 de Novembro de 2022

 

PERÍODO EXPOSITIVO

19 de Novembro de 2022 - 31 de Janeiro de 2023

 

HORÁRIO DE VISITAÇÃO

seg- sex, 10h30-19h / Sáb, 11h às 16h 

Tel: +55 11 3079-0853 

 

Nuclear e fora do centro

por José Augusto Ribeiro

 

Logo da entrada da sala é possível observar, numa única mirada, acontecimentos diversos – com aparências variadas, autônomos na relação uns com os outros –, produzidos em sua maioria diretamente na arquitetura e que, juntos, constituem uma situação pendente, suspensa no tempo e aberta a significações. O que houve? O que se passa? O que virá? No interior da galeria, para qualquer lado que o visitante dirija o olhar, há marcas de destruição, junto com insinuações de que, sim, algo está por suceder. Um exemplo? O fogo que lambeu as paredes: que se apagou, mas continua presente; não em chamas, e sim na ardência do que foi consumido para ser, desde então, outras coisas. O quê, não se sabe ainda.

 

Esse mesmo rastro de fogo estende um horizonte no lugar. Cruza uma parte das paredes da galeria na horizontal, envolve o visitante nessa delimitação e divisa, ali, dois elementos espelhados, acima e abaixo da linha. Para cima, levantam-se uma mancha densa, preta, e grafismos sinuosos, ziguezagueantes, que são os vestígios da combustão, do alastramento das chamas e da fustigação das superfícies pelas labaredas e pela fumaça. Para baixo do corte, escorrem as porções de parafina derretida de mais de mil velas queimadas, que vertem, informes, de uma prateleira de alumínio para o chão e, dali, avançam, mais e menos, para a área de circulação, em poças.

          

Curioso que, ao final, a configuração, a aparência seja, também, fraturada e ambígua: destrutiva e etérea, a uma só vez. Por um lado, em razão da própria queima, do desvanecimento e da aniquilação das matérias. Por outro, ao evocar gestos primordiais, alguma ancestralidade, ou simbologias religiosas, como os rituais que têm propósito de comunicação direta com divindades. Ou, ainda, como se essas manchas rabiscassem, em seus movimentos, uma paisagem fechada, contínua, de ciprestes ao vento, quem sabe em chamas – o que traria o pensamento, veja só, para o Brasil contemporâneo e a crise do meio ambiente.

            

Seja como for, esse lugar está quente. Inclusive com um núcleo, em forma de losango, que irrompe do piso com um de suas pontas incandescente. Isso mesmo: do chão brota uma estrutura geométrica feita de concreto (o mesmo material do edifício onde está a galeria), com uma área interna trincada e que traz uma pintura, uma mistura de azul, vermelho e amarelo, que torna o elemento quase um minério, uma pedra rara, quem sabe algo descoberto agora, que permanecia subterrâneo até pouco tempo atrás, bruto nas laterais e translúcido, cintilante, na face superior.

            

Esse colorido é o quê, a representação de uma aurora boreal? Seria isso um fenômeno da natureza ainda não descrito pelas ciências? Ou uma substância radioativa, um processo de reações nucleares? Seria uma visão sobrenatural? Uma pedra fundamental? Um sinal alienígena? Ou um fragmento arquitetônico? Uma escultura, uma instalação? Ou esse losango que surge com ímpeto do chão, no meio do retângulo da sala, seria uma referência à bandeira brasileira? Seria parte de uma alegoria? Do Brasil? Do Brasil de hoje, da política brasileira, das expectativas que se abriram com a transição entre governos?

 

Ao lado, na parede, apresenta-se um conjunto de recortes de plástico translúcido, um pouco como se fossem materiais de pesquisa laboratorial, em que estão impressas manchas e formas coloridas, algumas com aspecto orgânico, talvez de seres, criaturas pequenas, voadoras ou marinhas, talvez invisíveis, talvez existentes, talvez não mais, e que se revelam, capturadas aí, como aparições. E a fantasmagoria segue. Porque, a despeito da concretude das coisas e da evidência dos acontecimentos, as ideias que se insinuam a partir desses elementos tendem a alcançar os domínios do incorpóreo, do imaterial, do espiritual. Chegam a imagens, tempos e campos vários da atividade humana, às vezes dois ou mais, numa só tacada. A começar pelo fato de que as noções de construção e extinção coexistem aqui.

            

Nem por isso, também, enunciados afirmativos são necessariamente frágeis ou insustentáveis perante as peças. Antes, é a assertividade do trabalho em suas decisões, em seus procedimentos, que não se deixa confundir com ênfases do tipo categórico (é isso!). Ao contrário, o ânimo e as motivações de feitura são dubitativos, contêm dúvida e curiosidade (a ver!). Por não ter a convicção de onde cada coisa vai dar, faz-se. Tanto é assim que a exposição não se entrega a uma certeza nem se explica por uma sentença. Se não há resposta para as perguntas anteriores deste texto, é porque não há uma, ou uma resposta somente. As perguntas são retóricas, mas formuladas para acompanhar, rente, o disparo de imaginações, de múltiplas sugestões e de análises críticas (sobre o mundo, sobre o campo da arte, sobre ontem, hoje, amanhã) que Nuclear move, a todo momento – por meio de procedimentos incomuns, resolutos, mas sobre os quais o artista não exerce controle absoluto, nos quais o acaso opera. Em tempo: do lugar onde tais interrogações são lidas, dá para sentir o fervor dessa sala?

 

 

Sobre o Artista

A obra de Marlon de Azambuja reafirma o potencial plástico dos exercícios neoconcretos em intervenções urbanas, instalações e colagens. Revisita os “Metaesquemas” de Hélio Oiticica, ou mesmo os relevos espaciais do tropicalismo, com linhas no asfalto ou estruturas de fita adesiva no mobiliário urbano. Também recria padrões e estampas de substrato neoconcretista com fitas e etiquetas sobre papel, numa reflexão sobre a fidelidade ao material aliada à sua transformação plástica sobre o plano.

 

Realizou diversas exposições individuais no Brasil e exterior, como: Casas Modernistas para Pássaros, Galería Zaum Projects, Lisbon, Portugal (2008); Movimento Concreto, Galeria Furini, Rome, Italy (2009); Projeto Moderno, Galeria Luisa Strina, São Paulo, Brazil (2009); Operaciones, Explum, Puerto Lumbreras, Spain (2010); Niveles, curated by Neus Cortés, Espai Quatro, Casal Solleric, Palma de Mallorca, Spain (2010); Editora Calle, Galeria Marilia Razuk, São Paulo, Brazil (2011); Gran Fachada, Galeria Max Estrella, Madrid, Spain (2011). Entre as principais exposições coleticas estão: I Bienal del Fuego, curated by Fernando Castro Florez, Museu de Bellas Artes, Caracas, Venezuela (2006); TBA, Galeria Begoña Malone, Madrid, Spain (2007); La Ligne, La Vitrine, Paris, France (2009); Residency 09, Futura Project, Prague, Czech Republic (2009); Kierkegaards Walks, curated by Jacopo Crivelli, Galeria Marilia Razuk, São Paulo, Brazil (2010); 12o Cairo Bienal, Cairo, Egypt (2010); 8a Bienal do Mercosul, Porto Alegre, Brazil (2011); 11a Bienal de Cuenca, Ecuador (2011); 11a Bienal de La Habana, Cuba (2012).

Vistas
Obras